16 março, 2021


[Resenha] Úrsula - Maria Firmina dos Reis

Ficha Técnica 

Título: Úrsula
Autor: Maria Firmina dos Reis
ISBN: 978-65-5552-135-1
Páginas: 176
Ano: 2020
Editora: Principis
A narrativa se articula a partir de um triângulo amoroso formado por Adelaide, Tancredo e seu pai. Esse triângulo é desfeito com a derrota de Tancredo. Cria-se, então, um segundo triângulo formado por Tancredo, Úrsula e seu tio. Mas há, também, uma tríade, formada por três personagens negros, que vão aparecendo ao longo da narrativa, cuja importância vai tomando proporções cada vez maiores: Túlio, Mãe Susana e Antero que, juntamente com o jovem Tancredo, dão o tom diferente à narrativa. Esses personagens armam uma trama incrível nos tempos de um Brasil escravocrata.

Resenha


Seguindo com minha missão de ler mais clássicos, chegou o momento de um livro nacional e nada melhor do que começar com a Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira romancista negra brasileira. É verdade que até pouco tempo não se tinha noção da existência deste livro até que um pesquisador descobriu uma edição fac-símile em um sebo e trouxe essa obra para que todos nós tivéssemos a oportunidade de lê-la. 
Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e a conversação dos homens ilustrados, que aconselham, que discutem e que corrigem; com uma instrução misérrima, apenas conhecendo a língua de seus pais, e pouco lida, o seu cabedal intelectual é quase nulo.
(…)
Não a desprezeis, antes amparei-a nos seus incertos e titubeantes passos para assim dar alento à autora de seus dias, que talvez com essa proteção cultive mais o seu engenho, e venha a produzir coisa melhor, ou, quando menos, sirva esse bom acolhimento de incentivo para outras, que com imaginação mais brilhante, com educação mais acurada, com instrução mais vasta e liberal, tenham mais timidez do que nós.
Posição 1%
Neste romance a autora nos apresenta Úrsula, uma jovem que vive sozinha com a mãe enferma na fazenda da família com poucas pessoas escravizadas. A vida dela é dedicada ao cuidado da mãe, que vive acamada, mas, como era esperado das jovens do século XIX, sonhava em se casar e constituir uma família. Mas Úrsula não é a primeira personagem que conhecemos nesta história. 

Tancredo passou por uma grande decepção amorosa e por isso acredita que não é mais possível encontrar outro amor. Provavelmente em algum momento ele se case, mas nunca mais será a mesma situação. Entretanto, em uma viagem de trabalho, fica entre a vida e a morte e é salvo por Túlio, um escravizado. Salvando o homem, Túlio o leva para a casa de sua senhora, e Úrsula passa a cuidar também deste enfermo.

Enquanto cuida de Túlio, Úrsula percebe que sente uma afeição por ele que cresce a cada dia e, Tancredo, ao se ver melhor, também sente-se encantado com a jovem. A afeição que cresceu também foi entre Tancredo e Túlio e, enquanto Tancredo é extremamente grato a Túlio por ter salvado sua vida, Túlio tem certeza de que Tancredo é uma boa pessoa e não apenas porque ele quer recompensá-lo por sua boa ação. 

Porém, enquanto Tancredo, recuperado, segue sua viagem na esperança de voltar logo para perto de Úrsula, outro personagem aparecerá para atrapalhar o romance.  
É horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim e que não lhes doa a consciência de levá-los à sepultura asfixiados e famintos!
Posição 46%
Ainda que seja um romance da ambientado no Brasil do século XIX enquanto a escravidão era uma realidade, outros personagens se destacam nesta história: Túlio e Susana. Dois personagens negros fundamentais em Úrsula. Túlio e seu coração puro; Susana e sua história de vida, lembrando de quando era livre em sua terra natal e o que escravidão tirou dela e o que jamais conseguiria tirar. Além disso, mais importante do que um romance, é o fato de este livro ter sido escrito em uma época de escravidão por uma mulher negra e nordestina que, sabendo que dificilmente conseguiria publicar seu livro, ainda assim o escreveu e colocou, em meio ao romance, assuntos de extrema importância: o que levou os homens brancos a acreditarem que tinham direito sobre a vida dos negros? Por que tirá-los de sua terra natal e fazer deles escravos? E de onde vinha o direito do homem sobre a mulher? 
— (…) Por que o que é senhor, o que é livre, tem segura em suas mãos ambas a cadeia, que lhe oprime os pulsos, cadeia infame e rigorosa, a que chamam "escravidão"?!… E entretanto este também era livre, livre como o pássaro, como o ar; porque no seu país não se é escravo. Ele escuta a nênia plangente de seu pai, escuta a canção sentida que cai dos lábios de sua mãe, e sente como eles, que é livre; porque a razão lho diz, e a alma o compreende. Oh, a mente! Isso sim ninguém a pode escravizar! 
Posição 13%
Com certeza neste livro vocês encontrarão mais do que um romance do Brasil escravocrata; encontrarão muito o que refletir a cerca dos direitos humanos, escravidão, machismo e vejo também como uma busca pela realização de um objetivo, mesmo que lhe digam que você não pode fazer algo, afinal, quem esperava que uma mulher negra e nordestina publicasse um livro no Brasil escravocrata? Mas aqui estamos nós, no século XXI, ainda lutando pelos mesmos direitos e tendo a oportunidade de divulgar esta obra de suma importância para nossa sociedade. Um obrigada especial à diagramação que colocou Susana e Túlio na capa assim como o cavalo (que também é importante para a história), destacando o que realmente é importante aqui.  

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