22 fevereiro, 2020


[Cinema] Jojo Rabbit



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Além de ser uma forma de diversão, o humor é uma poderosa ferramenta de questionamento. Piadas moldam a percepção que as pessoas têm de normalidade e do que é aceitável. O que funciona como gancho da piada geralmente é aquilo que se considera estranho, incomum ou até mesmo "anormal". Na tentativa de questionar o status quo, alguns humoristas se voltam para os detentores do poder e transformam tiranos e poderosos em ridículos. Uma estratégia que funcionou muito bem para Charles Chaplin em O Grande Ditador (1940) e volta a funcionar em Jojo Rabbit; com maestria, diga-se de passagem.

É importante lembrar que fazer piada com Hitler e transformá-lo em uma caricatura não é uma forma de diminuir o sofrimento causado aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Nada no mundo vai apagar os horrores do holocausto. Por isso mesmo as piadas são direcionadas à figura de Hitler, o rosto do nazismo, e com isso ridicularizam não só o ditador e seus seguidores como quaisquer outros que sigam regimes parecidos.

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O Hitler de Jojo Rabbit é o amigo imaginário do protagonista, portanto, a versão idealizada que uma criança tem do líder. Jojo é um garotinho que faz parte da juventude hitlerista e que sonha em lutar na guerra. Na sua imaginação, Hitler corre pela floresta, janta unicórnios e dá conselhos. A caracterização é uma piada à parte: o representante de um governo tirânico e racista é interpretado pelo próprio diretor, um judeu polinésio. Taika Waititi tem a pele escura e o histórico religioso que deixariam Hitler espumando de raiva (igual naquela cena de A queda).



Depois de um acidente no acampamento da juventude hitlerista, Jojo descobre um segredo em sua própria casa e começa a questionar seus ideais, assim como os conselhos de seu amigo imaginário. Tinha tudo para ser uma história bem clichê e talvez fosse, do ponto de vista de um soldado adulto ou com um roteiro mais sério. Mas Jojo Rabbit é uma comédia dramática e, em sua primeira metade, se permite transformar cada pequena ação na vida do protagonista em uma forma de caçoar dos nazistas. Este é o primeiro grande mérito do filme, seu humor que parece não ter limites.

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Seu segundo grande mérito é a capacidade de abrir mão do riso nas cenas em que ele não cabe. Os momentos mais dramáticos, lá pela segunda metade, são entregues de forma sutil, mostrando e dizendo apenas o necessário. Enquanto a comédia é exagerada e até pastelão em alguns momentos, o drama é gentil apesar de sofrido. Essa transição é delicada e poderia ter falhado, se não fosse a direção primorosa.

Se eu tivesse que escolher um terceiro grande mérito, seria o de dar tempo para seus personagens se desenvolverem. Não só os protagonistas mas até aqueles coadjuvantes que parecem estar ali só para serem engraçadinhos. Todos os personagens têm a oportunidade de concluir um arco até o fim do filme, além de serem interpretados por atores excelentes. Todas as atuações são perfeitas, desde Roman Griffin Davis (Jojo) até Scarlett Johansson (Rosie), passando pelo próprio Taika Waititi (Adolf) e Sam Rockwell (brilhante como o capitão Klenzendorf).

O detalhe que amarra tudo isso de forma divertida é a direção de arte. Como vemos a Alemanha pelos olhos de Jojo, tudo é colorido, ao contrário do padrão de cores usado em filmes de guerra. Aqui as cores são fortes e alegres, como em um livro infantil ilustrado. A trilha sonora também se encaixa perfeitamente, com versões em alemão para músicas dos Beatles e do David Bowie, formando um retrato alegre de um país em guerra.

Jojo Rabbit é a prova de que é possível fazer humor de qualidade sobre temas sérios, sem transformar a história em piadas grosseiras ou ser ofensivo de forma gratuita. Prova de que Taika Waititi tem talento de sobra (não que eu duvidasse) e que ainda existem formas de inovar ao contar histórias sobre a Segunda Guerra.

Numa escala de um a cinco taika waititis dormindo no trabalho, o quanto eu gostei do filme:

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Comentários
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Um comentário:

  1. Gente, eu amei esse filme!rs
    Um jeito único de trazer assuntos tão fortes como a Segunda Guerra de uma forma mais leve em alguns momentos, tristes em outros,mas no contexto geral, com algo inovador neste estilo de filmagem.
    Preciso rever!!!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

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