Durante os meses que se seguiram desde que Capitã Marvel foi anunciado, eu me peguei pensando por várias vezes “eu preciso que esse filme seja muito bom”. Não porque eu fosse fã da personagem mas porque sabia que um filme ruim significaria um retrocesso para as adaptações estreladas por mulheres. Esta é uma pressão que protagonistas masculinos não sofrem. Inúmeros filmes baseados em quadrinhos protagonizados por homens foram medianos (O Espetacular Homem-Aranha) ou péssimos (sim, Batman vs Superman, eu tô olhando pra você) e, ainda assim, os estúdios nunca cogitaram parar de fazer filmes de super heróis. Mas o fracasso de Mulher Gato (2004) e Elektra (2005) significou um atraso de 12 anos para heroínas: Patty Jenkins só foi chutar as portas com Mulher Maravilha em 2017. O Batman já foi interpretado por cinco atores diferentes nos últimos vinte anos e o Homem-Aranha já teve três séries de filmes diferentes, ainda assim a Viúva Negra não ganhou seu tão aguardado filme solo.
Minha apreensão com Capitã Marvel só fez aumentar quando alguns grupos ameaçaram boicotar o filme em retaliação a falas da Brie Larson em entrevistas. Ela disse que tinha notado que a maioria dos críticos de filmes eram homens brancos e que iria garantir que as cabines de seu filme fossem mais diversas. O que se seguiu foi uma onda de misoginia parecida com a que levou a Kelly Marie Tran (a Rose de Star Wars: Os Últimos Jedi) a deixar as redes sociais. Pessoas que nunca ameaçaram boicotar Vingadores por causa das opiniões fortes do Chris Evans ou do Mark Ruffalo acharam razoável insultar a Brie Larson e promover ódio ao filme por causa de sua “agenda feminista”.
Nada disso deveria desmotivar ninguém de assistir ao filme. Capitã Marvel é um ótimo filme de origem, com personagens cativantes e ação bem ritmada. Pelo pouco que os trailers mostraram, a personagem era uma guerreira alienígena com um passado misterioso na Terra, que se aliava a um Nick Fury mais jovem para combater um inimigo em comum. Ah, e tinha um gato fofo envolvido também. Servindo como um prelúdio para a maioria das histórias do MCU (exceto Capitão América), o longa se passa em 1995, trazendo uma sensação de nostalgia nova para o cenário, um feito que só havia sido explorado em Guardiões da Galáxia e Thor: Ragnarok. Referências aos anos 90 estão por todo lado: nas camisetas de bandas que a protagonista usa ao longo da história, nas cenas que envolvem tecnologia antiquada, na trilha sonora composta de bandas da época e que se destacam em dois momentos importantes na trama: quando a Carol entra em comunhão com uma inteligência artificial enquanto “Come as you are” do Nirvana toca no fundo e uma cena de batalha espetacular ao som de “Just a girl” do No Doubt.
Ser “apenas uma garota”, ou uma mulher, no caso, é parte importante do conflito de Carol Danvers. Resgatada pelos Kree, uma raça de guerreiros alienígenas, ela não tem memórias de sua vida pregressa. A busca por sua identidade, pela verdade sobre si mesma, se torna uma de suas motivações quando ela é confrontada com uma missão inesperada.
Existem algumas cenas que vão ressoar mais forte no público feminino porque são situações pelas quais mulheres passam com uma frequência exaustiva. Quando Yon-Rogg diz que Carol precisa controlar suas emoções, eu lembrei de todas as vezes em que eu ouvi que mulheres eram emotivas demais ou não eram racionais o suficiente. Quando a protagonista é assediada por motoqueiro que diz pra ela sorrir, eu pensei em todas as vezes em que eu e as mulheres que eu conheço foram assediadas da mesma forma. Carol é constantemente diminuída por ser mulher e isso é algo com que todas nós conseguimos nos identificar. 1995 foi ainda agora e continua sendo muito difícil viver num mundo que maltrata metade da sua população.
O que torna a relação entre Carol e Maria Rambeau (a outra piloto que aparece no trailer) ainda mais especial. A união delas, uma amizade tão forte e encorajadora, que apoia e incentiva, é tão bonita e verdadeira e destoa tanto do padrão dos filmes de herói que faz a gente se perguntar por que o cinema não retrata boas amizades entre mulheres com mais frequência (a gente sabe a resposta). É seguramente a segunda melhor amizade do MCU, perdendo apenas pra Steve e Bucky.
As melhores surpresas em termos de personagens, no entanto, vem de lugares inesperados: Monica, a criança mais fofa do MCU; Nick Fury, que está surpreendentemente divertido; e Goose, a gata fofinha responsável por uma das melhores cenas do filme. O elenco é muito coeso, apesar de dois dos atores (Gemma Chan e Djimon Hounsou) parecerem desperdiçados em papéis muito pequenos.
eu saindo da sessão do filme (oh capitão, meu capitão) |
Capitã Marvel não é o melhor filme da Marvel e não deveria ter que ser. Não deveria precisar ser espetacular pra ser validado, assim como filmes com protagonistas masculinos tem “o direito” de serem ruins sem que isso arruíne as chances dos outros heróis. Não deveria ser considerado entretenimento menor por ter uma mulher no papel principal. Apesar de toda essa pressão injusta, o longa, que também foi co-dirigido e roteirizado por mulheres, entrega uma história bem feita, um ótimo filme de origem, um bom prelúdio pra Vingadores: Ultimato e mais um filme que vai inspirar meninas por todo o mundo.
Numa escala de um a cinco gatos famosos, o quanto eu gostei do filme:
Não vejo a hora de poder conferir este lançamento!!! Tá, pode ter havido esse boicote, mas nada que tenha de modo geral, atrapalhado todo este alvoroço que a heroína vem causando.
ResponderExcluirE oh, li ontem que o filme já está com uma bilheteria super alta.
Mesmo não sendo tão fã de super heróis e afins, verei sim e vou adorar ver uma protagonista mulher e tão destemida!!!
Beijo