05 maio, 2019


[Resenha] Holocausto Brasileiro - Daniela Arbex

Ficha Técnica 

Título: Holocausto Brasileiro
Autor: Daniela Arbex
ISBN: 978-85-510-0463-0
Páginas: 280
Ano: 2019
Editora: Intrínseca
Em reportagem consagrada, Daniela Arbex denuncia um dos maiores genocídios do Brasil, no hospital Colônia, em Minas Gerais. No Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, conhecido apenas por Colônia, ocorreu uma das maiores barbáries da história do Brasil. O centro recebia diariamente, além de pacientes com diagnóstico de doença mental, homossexuais, prostitutas, epiléticos, mães solteiras, meninas problemáticas, mulheres engravidadas pelos patrões, moças que haviam perdido a virgindade antes do casamento, mendigos, alcoólatras, melancólicos, tímidos e todo tipo de gente considerada fora dos padrões sociais. Essas pessoas foram maltratadas e mortas com o consentimento do Estado, médicos, funcionários e sociedade. Apesar das denúncias feitas a partir da década de 1960, mais de 60 mil internos morreram e um número incontável de vidas foi marcado de maneira irreversível. Daniela Arbex entrevistou ex-funcionários e sobreviventes para resgatar de maneira detalhada e emocionante as histórias de quem viveu de perto o horror perpetrado por uma instituição com um propósito de limpeza social comparável aos regimes mais abomináveis do século XX. Um relato essencial e um marco do jornalismo investigativo no país, relançado pela Intrínseca com novo projeto gráfico e posfácio inédito da autora.

Resenha

Lançado originalmente em 2013, “Holocausto Brasileiro” já vendeu mais de 300 mil exemplares, recebeu o prêmio Jabuti e ainda ganhou um documentário pela HBO. Agora relançado pela Intrínseca, o excelente relato jornalístico da autora Daniela Arbex ganha fôlego para alcançar novos leitores, e assim continuar perpetuando conhecimento sobre os terríveis acontecimentos do Colônia.

O Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB), mais conhecido por Colônia, foi uma instituição localizada no interior de Minas Gerais, criado para acolher pacientes com problemas mentais, mas que acabou se tornando um local para calar as vozes de qualquer pessoa que não se enquadrasse a um certo tipo de comportamento social, como por exemplo os homossexuais, prostitutas, mães solteiras, moças que perderam a virgindade antes de casar, alcoólatras, etc.
Os recém-chegados à estação do Colônia eram levados para o setor de triagem. Lá, os novatos viam-se separados por sexo, idade e características físicas. Eram obrigados a entregar seus pertences, mesmo que dispusessem do mínimo, inclusive roupas e sapatos, um constrangimento que levava às lágrimas muitas mulheres que jamais haviam enfrentado a humilhação de ficar nuas em público.
P. 29
Diariamente centenas de pessoas eram internadas no Colônia, muitas delas deixadas por seus familiares mais próximos, e mesmo sem obterem um diagnóstico de doença mental, nunca tiveram a chance de voltar a ter uma vida fora dos muros da instituição. Mais de 60 mil pessoas morreram dentro do CHPB durante os mais de 115 anos de seu funcionamento. Tais mortes foram ocasionadas por vários motivos, a maioria por negligência e crueldade dos responsáveis destes seres humanos.

Durante anos, os acontecimentos do Colônia foram denunciados por jornalistas, fotógrafos, cineastas e psiquiatras, porém nada foi feito para pôr um fim na chacina que diariamente acontecia na cidade de Barbacena. Foi somente depois do encerramento de suas atividades, e que os poucos sobreviventes – em torno de 190 – foram transferidos, que a jornalista Daniela Arbex no fim dos anos 2000 iniciou uma série de entrevistas com as vítimas e ex-funcionários, que acabaria se tornando posteriormente o livro “Holocausto Brasileiro”.
Ele trabalhava numa empresa de café e, mesmo sem ter sido julgado, foi sentenciado à pena de morte: a internação no Colônia. Inocente, passou a vida encarcerado.
P. 101
A história por detrás dos acontecimentos do livro são por si só suficientes para prender o leitor, porém são os relatos dos sobreviventes, magistralmente organizados por Daniela que fazem com que nos conectemos com toda a dor e insanidade descrita por essas pessoas, como se cada capítulo fosse um trágico conto de terror… que infelizmente não passa de pura realidade. Obviamente que nós nunca teremos ideia do que é passar pelas atrocidades que elas passaram, mas essa pequena fresta é essencial para que nós possamos conhecer e entender nossa própria História.

É praticamente inaceitável que nós como brasileiros não tenhamos acesso e conhecimento do nosso próprio passado. Tais eventos em Barbacena, que foram encerrados ainda neste século, precisam ser discutidos, disseminados e jamais esquecidos. Eu me senti extremamente traído ao ler este livro e nunca ter até então ouvido falar do Colônia. É revoltante ver como que nós brasileiros não damos valor ao nosso legado, seja ele positivo ou negativo. E é exatamente por isso que em pleno 2019 as coisas estão como estão.
De volta à redação, o fotógrafo desabafou com Eugênio Silva.
– Aquilo não é um acidente, mas um assassinato em massa. Só precisei clicar a máquina, porque o horror estava ali.
P. 177
“Holocausto Brasileiro” é uma leitura obrigatória, necessária e essencial para todos nós. Precisamos conhecer estes sobreviventes, precisamos lembrar e respeitar as vítimas deste assassinato em massa e principalmente, precisamos nos unir e trabalhar para que tal atrocidade não se repita. Daniela Arbex – e todos responsáveis por ajudar no excelente acervo fotográfico da obra – tem toda a minha gratidão e respeito por ter feito um trabalho tão bonito e respeitoso em meio ao caos.

P.S.: Se quiser adicionar esse livro na sua lista de leitura do Skoob basta clicar na capa que você será redirecionado para a página do livro no Skoob 😉
Comentários
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Um comentário:

  1. Eu preciso ler urgentemente este livro! Acabei vendo o documentário já tem um tempo e o gostinho amargo ainda está aqui na minha boca.
    Minha irmã trabalho num hospital psiquiátrico aqui pras bandas das Gerais...(Cocais, chama-se a cidade,no interior de Sp), convivendo diariamente com pessoas que sofreram horrores nesta época turva da nossa história.
    Pessoas normais, que apenas por estarem perdidas, eram submetidas a lobotomias, experimentos assustadores.
    E este livro traz muito tudo isso!
    Lerei com certeza!!!
    Beijo

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