[Resenha] O Circo Mecânico Tresaulti - Genevieve Valentine

Ficha Técnica

Título: O Circo Mecânico Tresaulti
Título Original: Mechanique: A Tale of the Circus Tresaulti
Autor: Genevieve Valentine
ISBN: 978-85-6663-616-1
Páginas: 317
Ano: 2013
Ilustrações: Wesley Rodrigues
Tradutor: Dalton Caldas
Editora: Darkside

“Respeitável público, sejam bem vindos ao incrível Circo Mêcanico Tresaulti, o lugar para quem acredita no mundo mágico que nos rodeia. Permita-me conduzi-lo por uma viagem única através da luz e das sombras onde descobriremos juntos uma nova forma de ver tudo e a todos. Onde não existe limite entre o picadeiro e a plateia, onde tudo é real e o único limite é a nossa vontade de sonhar.” Às vezes, o mundo pode parecer um lugar desolador e escuro, formado por vastas amplidões cheias de conflito, onde o que todos procuram é se agarrar a algo que os faça sobreviver ao dia seguinte. Pois em O Circo Mecânico Tresaulti esse deserto cheio de perigos é atravessado pela magia de uma potente força criadora, capaz de devolver a integridade emocional e física a quem se juntar à trupe. Em pleno cenário pós-apocalíptico, O Circo Mecânico Tresaulti ergue sua lona e dá início ao grande espetáculo. Ambientado sobre a perigosa superfície de um mundo devastado, cheio de bombas e radiação remanescentes de uma guerra pela qual todos já saíram derrotados, este belo romance nos apresenta uma caravana circense em eterna viagem através de muitas cidades sem país, região ou rota definida. Lugares que podem não mais existir quando o circo retornar. Aqueles que se juntam ao circo procuram segurança, trabalho sem risco de vida ou apenas uma nova forma de recomeçar. E seguir adiante, apesar de tudo.

Resenha

Num futuro não especificado, o mundo está praticamente destruído após tantas guerras. Em meio a desvastação, ainda é possível encontrar um pouco de esperança nos locais menos inesperados. O Circo Tresaulti viaja levando sua irreverência e beleza pelas cidades e vilas ao redor do globo, porém com um diferencial bem peculiar: seus artistas são mecânicos.

Não que todas as pessoas do Circo Tresaulti sejam formadas completamente por metal ou engrenagens. Algumas delas, de fato, só possuem uma mão ou um pé mecânico; outras não possuem nenhuma parte automatica se quer; enquanto uns poucos são praticamente 100% máquinas. A responsável pelo circo, e por adaptar esses artistas com partes metálicas, é Boss, uma misteriosa mulher que sabe muito bem como comandar seu espetáculo e a sua trupe.

Havia sempre lágrimas de alegria; um homem tão lindamente unido com uma máquina era algo que as pessoas precisavam ver depois de uma guerra como a qual haviam passado. A tecnologia naquela época era armas e sinais de rádio; as pessoas precisavam lembrar-se da arte da máquina.
Pág. 20

Em “O Circo Mecânico Tresaulti” iremos ser apresentados a todos os atos do circo: quem eles são, como são e como foram parar lá. No cenário pós-apocalíptico em que a Terra se encontra, se refugiar em algum lugar seguro é uma questão de sobrevivência, mesmo que isso não seja uma garantia de paz.

A narrativa do livro fica a cargo de Little George, que apesar de não fazer parte do show, é o responsável por divulgar os cartazes pelas cidades. Sua narração é de um personagem que praticamente observa e participa muito pouco das ações - situação que muda em certo ponto da obra -, e por isso o leitor fica a par de cada nicho existente dentro do circo, como se o próprio estivesse lá.

Ela olhou para nós como se fôssemos crianças desobedientes. “Os aldeões não querem a realidade. Entreguem a ilusão, e eles aplaudirão.
Pág. 63 

Genevieve Valentine inicia sua carreira como autora com o pé direito. “O Circo Mecânico Tresaulti” foi bastante elogiado pela crítica especializada e chegou a ganhar o Crawford Award 2012, além de ter sido indicado ao Prêmio Nebula, um dos mais importantes da literatura na categoria de ficção cientifica e fantasia.

O livro me lembrou um pouco “A Mecânica do Coração”, por sua extrema beleza mesmo em situações dramáticas, além do fator mecânico em ambas as obras. Talvez o diferencial, é que a autora Valentine opta por enriquecer seu livro focando simplesmente em seus personagens. O circo é como uma casa, que abriga diversas pessoas, e nós leitores iremos de cômodo em cômodo visitar e conhecer cada um deles, para depois termos uma visão ampla e completa desta casa.

Atrevido e burro de alegria, eu disse de forma bem séria: “É o que acontece a algumas pessoas, senhor. Não dá para prever como a loucura cairá sobre você.
Pág. 120

Uma coisa que me incomodou um pouco foi a forma de narrar. A autora se mostra bastante inteligente nas escolhas das palavras e sua descrição é minuciosa, porém ela intercala o presente e o passado sem aviso prévio, o que acaba confundindo as vezes. Em certo momento Little George está ocupando seu posto de narrador, e sem mais nem menos o capítulo muda, fazendo com que a narração fique a cargo de um narrador totalmente diferente, este que se quer faz parte da estória.

Tirando isso, “O Circo Mecânico Tresaulti” é mais uma bela obra publicada pela Darkside, que apesar de não investir em capa dura desta vez, entrega um livro com a mesma qualidade de sempre. A versão nacional conta até com ilustrações do brasileiro Wesley Rodrigues, que enriquece o livro com seus traços, assim como fez Kiri Moth na versão americana.

Ilustrações de Kiri Moth e Wesley Rodrigues, respectivamente 

Um circo sempre encontra um lar; todos querem um espetáculo.
Pág. 165

Apesar de ter gostado bastante da leitura, infelizmente não posso indicar este livro para qualquer pessoa. Este é aquele tipo de obra que carrega em cada página um significado (reflexão), que exige bastante do leitor para compreender toda sua magnitude. Ao invés de termos um enredo engessado, são nos dado pela autora os personagens, que então ficarão responsáveis por nos contar - de uma forma lúdica - suas histórias, que se ramificam em algo maior e mais completo.

Não adianta tentar ler um livro desses se você não gosta deste tipo de escrita, pois daí você vai espalhar que o livro é ruim, o que está longe de ser a verdade. Genevieve é inteligente, sagaz e bastante delicada ao criar personagens ricos, e assim retratar em “O Circo Mecânico Tresaulti” o pior e o melhor do ser humano, principalmente quando este não tem mais nada a perder.