28 junho, 2020


[Resenha] Não Basta Não Ser Racista: Sejamos Antirracistas - Robin DiAngelo

Ficha Técnica 

Título: Não Basta Não Ser Racista: Sejamos Antirracistas
Título Original: White Fragility: Why it's so hard for white people to talk about racism
Autor: Robin DiAngelo
ISBN: 978-85-9581-106-5
Páginas: 192
Ano: 2020
Tradutor: Marcos Marcionilo
Editora: Faro Editorial
É hora de todos os brancos abandonarem a ideia de superioridade e, de fato, atuarem no combate ao racismo. Negação, silêncio, raiva, medo, culpa... essas são algumas das reações mais comuns quando se diz a uma pessoa que agiu, geralmente sem intenção, de modo racista. Ser abertamente racista não é algo socialmente aceitável. Ninguém quer ser visto assim. Mas cada vez que se nega o racismo, impedimos que ele seja abordado e que nossos preconceitos sejam discutidos. As reações de negação não servem apenas para silenciar quem sofre o preconceito, também escondem um sentimento que a autora Robin DiAngelo passou a chamar de fragilidade branca. Em seus estudos, DiAngelo catalogou frases, palavras e sentimentos de voluntários que se veem sem qualquer preconceito e demonstrou que, no fundo, ele estava lá. Sua proposta é que todos comecem a ouvir melhor, estabeleçam conversas mais honestas e reajam a críticas com educação e tentando se colocar no lugar do outro. Não basta apenas sustentar visões liberais ou condenar os racistas nas redes sociais. A mudança começa conosco.

Resenha


Já faz algum tempo que não leio um livro de não-ficção, mas o tema abordado em Não Basta Não Ser Racista: Sejamos Antirracistas merece atenção. Como mulher, negra e nordestina esse é um tema constante em minha vida; infelizmente. Recentemente alguns casos de violência contra os negros chamou a atenção da população mundial, mas para nós, negros, é algo comum e recorrente.

Não Basta Não Ser Racista: Sejamos Antirracistas é escrito pela socióloga Robin DiAngelo; uma mulher branca. Mas, antes que possamos questionar seu lugar de fala, é preciso deixar claro que o livro tem uma narrativa voltada para as pessoas brancas, de forma a deixar claro que O RACISMO EXISTE! Sim! Há quem acredite que isso é ficção, mas o racismo é real e DiAngelo traz logo de cara definições que serão fundamentais para o tema. Primeiro ela explica a diferença entre racismo, preconceito e discriminação:

Preconceito é o prejulgamento de outra pessoa com base nos grupos sociais aos quais ela pertença. O preconceito consiste em pensamentos e sentimentos, incluindo estereótipos, atitudes e generalizações baseadas em pouca ou nenhuma experiência, depois projetados em qualquer pessoa não integrante daquele grupo.
(...)
A discriminação é a ação baseada em preconceito. Tais ações incluem ignorar, excluir, ameaçar, ridicularizar, difamar e violentar.
(...)
Quando o preconceito coletivo de um grupo racial é apoiado pelo poder da autoridade legal e do controle institucional, ele é transformado em racismo, um sistema de amplo espectro que funciona independentemente das intenções ou das aotoimagens dos atores individuais.
P. 43-44
Em seguida, DiAngelo nos apresenta o que chama de "fragilidade branca", a maneira como os brancos são criados para negar que são racistas por não serem violentos, "terem sido criados para tratar todos da mesma forma", "não ver diferença de cor", "trabalha em um ambiente diverso" e tantos outros motivos, de não perceberem o quanto são privilegiados pelo fato de serem brancos, pertencendo ao grupo de poder. Ser branco é o padrão, os demais são exceção. Não perceberam que a maior concentração de riqueza mundial está nas mãos de homens brancos? Que a maior parte das produções culturais, e aqui falo de cinema, livros, música e tudo mais, são de homens brancos?

Ao longo dos anos o racismo foi se moldando e foi se tornando mais intrínseco, mais camuflado e alguns conceitos utilizados para tal foram a meritocracia e o individualismo. Um dos exemplos que DiAngelo traz no livro é a maneira como os preços dos imóveis nos Estados Unidos são definidos pela sua população; quanto mais negros, mais barato é para adquirir um imóvel, pois é considerado mais violento.
Quando digo que só brancos podem ser racistas, estou afirmando: só os brancos têm poder institucional, social e privilégios sobre s pessoas de cor. Os negros não têm o mesmo poder e privilégio sobre os brancos.
P. 46
Parêntesis aqui para falar que a tradução usa o termo "pessoas de cor" para expressar a classe que sofre com o racismo, que pode ser negros, indígenas e tantos outros, e esse foi um ponto negativo para mim na leitura, sempre que passava por esse termo, sentia um incômodo.

O texto aborda não só a questão racial, mas mostra como o sexismo e o classismo existem tanto quanto o racismo, afinal, é uma constante nos últimos anos, por exemplo, o debate sobre as diferenças salariais entre homens e mulheres em um mesmo cargo. E as classes sociais, nem precisamos comentar, não é mesmo?

Quando lemos Não Basta Não Ser Racista: Sejamos Antirracistas começamos a analisar tantas coisas, tantas formas de opressão e termos usados de maneira pejorativa que sequer percebemos. Vocês já pararam para pensar em por que estar na lista negra é algo ruim? Ou por que o que é comercializado ilegalmente ser considerado como realizado no mercado negro? Por que inveja branca é algo bom? E o verbo denegrir? São tantos termos que precisamos rever... Vamos ficar atentos às maneiras como os negros são retratados nos filmes, músicas, livros.

Trazendo para uma experiência pessoal, a Bahia é um Estado onde a maior parte da população é negra e, morando lá, não vivi na pele nenhuma situação por conta da minha cor, mas ao viajar para Estados no Sul do país, a depender do local onde estivesse, recebia olhares diferentes, fossem por curiosidade ou preconceito. Porém, o fato de, além de ser negra, ser mulher e nordestina carrego um peso que não é fácil de suportar, o que foi um dos motivos de eu ter me cobrado tanto ao longo da minha vida, fosse nos estudos, no trabalho e nas minhas relações sociais, para não dar margem para qualquer negativa.

Por mais que uma pessoa branca tenha convivido com alguém negro e mantenha amizades inter-raciais, não terá a experiência, não saberá, por exemplo, o que é crescer cercado por situações que não te representam. Eu nasci em 1985 e as bonecas que ganhei eram sempre brancas, de olhos azuis e cabelos claros. Nunca consegui assimilar que eram "minhas filhas" como muitas meninas brincam. Ah, claro, nunca gostei da Barbie. Além de tudo isso, ela é super magra. O oposto de mim, por isso, ainda preferia aquelas bonecas bêbes, com corpo de pano. Se lia os gibis, não havia negros; os contos de fadas, menos ainda. Como aceitar que seu cabelo é enrolado e diferente da maioria das meninas? Claro que, assim que tive idade suficiente, pedi para minha mãe deixar eu alisar o cabelo; e foram anos refém do secados, chapinha e alisantes diversos.

Afirmar que não percebe diferenças raciais, diminuir a experiência dos negros e negar ser racista por qualquer que seja o motivo não ajuda a causa. O assunto precisa ser discutido à exaustão, precisamos estar sempre vigilantes, pois os negros estão morrendo a todo instante pelo simples fato de serem negros.

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Comentários
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4 comentários:

  1. Nessa época onde a luta contra o racismo ganhou mais voz e mais espaço, acho super importante que livros assim, existam!
    Todos precisamos lutar. Ontem, no dia do Orgulho LGBT(e outras coisas) li algo que me emocionou: você não precisa ser gay para lutar a favor deles! Acho que é como não ser negra(o) e lutar sim, por igualdade.
    Sonho(utopia) por um mundo onde não haja rótulos. Somos humanos, apenas isso!!!
    Já quero este livro!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

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    1. Verdade, Angela, disse tudo: "não precisa ser, para lutar a favor" e essa é a beleza de um mundo onde todos possam viver em harmonia, sem desmerecer ninguém.
      Espero que consiga ler e indicar para outras pessoas.
      Beijo

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  2. Olá,
    Parabéns pelo post. Com certeza é um assunto mais do que necessário e que tem que ser discutido sempre. Que livros como esse venham para trazer conhecimento e conscientizar cada vez mais.

    Beijo!
    www.amorpelaspaginas.com

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    1. Oi, Ray!
      Obrigada, sem dúvida esse tipo de livro precisa ser muito difundido e discutido.

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